terça-feira, 13 de novembro de 2007

Viagem a São Raimundo Nonato I

o calor era tão insuportável que me fazia sentir saudades daquele cruzamento das avenidas Miguel Rosa e Frei Serafim às duas horas da tarde. mas não era só isso. tudo que eu via me incomodava. a miséria estava diante dos meus olhos. casas de taipa, ruas sem calçamento, crianças no meio da rua, cachorros, animais... a cidade se confundia, de repente, era um deserto, às vezes, parecia um pequena vila... a cidade parecia abandonada, e de fato estava... aquilo tudo já estava me assustando. tudo que eu via me fazia mal. nunca estive tão próximo de um ambiente tão miserável quanto aquele. mas sentia sede e não havia água. sentia fome. e lembro bem do lugar em que almoçamos: o sal que temperava a carne estava no chão próximo a uma cadela, que mais parecia uma leitoa (imagine as condições do tal ambiente), lembro das linhas penduradas no teto segurando sacos d'água para afugentar as moscas... mas lembro que o local era um tanto repugnante. lembro bem do cara sentado na calçada da "churrascaria" dizendo 'esse b... é um cara de sorte, nunca que ele recebeu tanta gente, e só mulher e rapaz de fora, tudo turista". e o suor daquele cara tornou o gosto daquela comida um tanto mais saborosa. aquele era o retrato da necessidade... o sabor daquela comida estava repleto do tempero mais importante: a fome. nós estávamos famintos. e isso nos bastava. então fomos ao berço do homem americano. o caminho era um pouco mais afastado da cidade. nós ainda estávamos na cidade.(que cidade era aquela!!!!). poeira... o clima quente e insuportável tornava tudo mais difícil. os galhos secos, retorcidos pareciam querer nos agredir. e os que os meus olhos viam era um ambiente hostil... ultrapassar aquilo tudo seria um verdadeiro sacrifício. tinha sede, e não havia água. apenas terra, poeira e aqueles galhos que nos fitavam querendo nos expulsar. imaginava o desespero de todo aquele povo... fome, sede e todo aquele calor insuportável. estávamos em novembro e já fazia meses que não chovia por ali. a terra rachada... meus problemas pereciam tão pequenos perto daqueles que eu via. eu estava no sertão do piauí. e tudo aquilo que eu via era assustador. o ambiente seco, quente, hostil, desagradável, desumano. eu não queria estar ali. eu não sabia mais o que eu estava fazendo ali. tudo o que eu via me pertubava. abria os olhos cada vez mais. era a parte da realidade que eu não conhecia... CONTINUA...