quinta-feira, 24 de julho de 2008

a filha do meio

tava eu um dia lá em casa, quando ouvi aquela conversa:
- Seria bom se meus pais ligassem um pouquinho mais pra mim, pra saber como eu estou. Eu ia gostar.
ela viu, sabe-se lá onde, uma conversa de que a ordem de nascimento dos filhos pode influenciar o comportamento deles. Pois que seja! Resolvi embarcar nessa viagem… vou esquecer do mais velho e do mais novo… vou olhar apenas para você: a filha do meio (de acordo com a tal teoria).
Pensei… faz muito sentido o que você me disse. Mesmo sem querer os pais tendem a estabelecer diferentes papéis para os filhos. para o mais velho: responsabilidade e liderança; o mais novo: é o filhinho da mamãe, todo mimado. mas onde é que você entra nesta conversa? onde fica a filha do meio? imprensada entre o mais velho (que ajuda aos pais por ser o mais velho – é a tal da responsabilidade) e entre o mais novo (o xodó da casa). pois é… a filha do meio fica aí, perdida, já que não se tem um papel bem estabelecido para ela. ora tem que ajudar o mais velho nas tarefas (porque é mais velha que o caçula) ora fica do lado do mais novo (pois é mais nova que o mais velho mesmo.. rsrsrsrs).


Responsabilidades e mimos… isso deve confundir mesmo!!!! uma hora você é responsável, outra você pode tudo. de acordo com a tal teoria, a filha do meio tende a ser mais indecisa e ter baixo nível de auto-estima. os especialistas no assunto declaram que há uma recorrência de casos em que o irmão do meio é o mais perdido. isto porque ele não é nem a forte representação do orgulho da casa (no caso do mais velho) e nem a frágil criatura a ser protegida (no caso do caçula). ele termina se colocando num limbo, num conjunto de incertezas e frustrações, carente da atenção devida.

mas o fato de estar bem no meio a coloca numa posição de mediadora, ajudando a alcançar uma solução para os conflitos entre o mais velho e o mais novo. pode ser que aí esteja a razão de você ter dito que o filho do meio adquire mais responsabilidade. Ufa!!!! finalmente algo positivo em ser o filho do meio (opinião minha)… se bem que nessa teoria aí não encontrei nada disso. diz apenas que os filhos do meio têm explosões de raiva para chamar a atenção, tendem a mudar o visual para procurar uma identidade própria, tentam fazer algo diferente dos irmãos... o que me parece não ser o seu caso.

mas uma coisa que me chamou atenção é o fato que um dia você foi a mais nova. e isso me chamou a atenção mesmo!!! deve ser chato perder o trono. é fato que nunca teve a exclusividade dos pais já que já existia o irmão mais velho, mas deixar de ser o mais novo deve ser ruim. é possível cair num sentimento de solidão difícil de contornar. e enquanto os mais velhos nunca deixam de ser mais velhos, os do meio têm de abdicar de certos privilégios e entrar definitivamente na terra de ninguém. eu também sou o filho do meio... e talvez aqui esteja as nossas diferenciações em relação a esta teoria. segundo os estudiosos, a posição de irmão do meio é talvez a que está mais condicionada pelo fator sexo. um irmão do meio que seja o único homem ou a única mulher terá a sua vida mais facilitada, pois o seu papel estará bem definido e a sua visibilidade longe de ser ameaçada. é o meu caso: irmã mais velha e irmã mais nova. já no seu caso: irmão mais velho e irmã mais nova. o seu esforço de afirmação seria bem maior e a conquista de um lugar demarcado na família um objetivo muito mais difícil de alcançar. Alguns conseguem-no. Outros ficarão para sempre a sentir-se apagados no meio da prole.

Olhe! a verdade é que tudo faz muito sentido, mas existe muita coisa que pode interferir. quero dizer tem tanta coisa que pode interferir, que seria impossível se estabelecer uma regra geral. pode até explicar alguns sentimentos que te assolam, mas não é o suficiente para aceitá-los e, principalmente, conformar-se com eles.

Por fim, segundo Nise Britto, uma estudiosa do assunto, “O filho do meio deveria ser o filho emocionalmente mais saudável exatamente porque foi criado com menos ansiedade, com mais experiência e mais acertos (...) os pais podem se distanciar um pouco do segundo filho e até ser um pouco negligentes em suas funções. E, por não serem tão vigiados pelos pais, os "segundinhos" acabam se tornando mais sociáveis, comunicativos, aventureiros, não gostam de seguir as convenções e admitem o erro com mais facilidade. Também são mais livres, idealistas, sonhadores. Por isso, podem ser taxados de rebeldes. E, quando chega o caçula, o segundo filho se torna o filho do meio, recebendo ainda menos atenção dos pais. O filho do meio no fundo se sente um pouco abandonado, como se suas necessidades não fossem tão importantes quanto às dos irmãos. Isso pode desenvolver nele uma atitude de independência desafiadora, e um desapego em relação às normas, às relações afetivas e familiares".

Essa teoria apresenta muitas variáveis... você pode ir pra onde quiser!!!

Um comentário:

Maria disse...

Bom, eu não o conheço pessoalmente, embora já tenha escutado seu nome infinitas vezes através de meus amigos mais queridos.

Mas era impossível ler o texto e não comentar. Isso por ser irmã do meio...e ter um irmão mais velho e uma irmã mais nova!

Na verdade, não seria bem um comentário, mas um elogio, por ter me encontrado em algumas palavras,consolada por outras e instigada pelas últimas.

Texto muito bom. E que provavelmente só quem ocupa essa posição entende absolutamente...

Abraço.